Descrição
Isto não é uma carta, oitavo livro de Sandro Ornellas, pode ser lido como uma reunião de fragmentos para uma ficção crítica feita de impressões, devaneios, aforismas, delírios poéticos e reflexões brevíssimas, nem sempre publicados em redes sociais e blogs. O autor escreveu a maior parte deles ao longo dos últimos dez anos, sem qualquer projeto de livro e sob o signo da ruína e do empobrecimento cultural, político e ético que experimentamos nesse tempo. O caráter fragmentário dos textos também está de acordo com o contexto de um país que aos poucos foi se despedaçando, com as pessoas apenas reagindo à velocidade dos acontecimentos, sem tempo para elaborá-los.
O fio que amarra (consegue?) o livro são dezoito textos em que o autor se dirige a interlocutores anônimos com quem dialoga sobre o sentido de escrever. Ao possuir destinatários, esses dezoito textos simulam algo da ideia de carta, sem necessariamente serem cartas, o que ajuda a entender a incerteza pela qual o livro caminha desde o título. Isso vale para o livro, bem como para muitos textos, escritos como um esforço para compreender, não explicar, o que se passava – coletiva e/ou individualmente –, sem recair nos discursos mais óbvios que circulavam e ainda circulam.
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E nada pode ser feito quanto a isso é o terceiro livro de Marcelo Frazão, uma coletânea com 49 poemas concebidos e trabalhados nos últimos cinco anos. Os temas são diversos. No livro, Frazão aborda política, religião, amor e erotismo sem se esquivar das dúvidas que cercam a existência humana. Sua linguagem entrelaça recursos como imagens caleidoscópicas, ironia e humor – às vezes, beirando o sarcasmo.
Não é arriscado dizer que seus poemas conduzem a um caminho intrigante, um caminho a provocar o leitor enquanto sujeito de suas próprias vontades: “Felicidade/ é o momento exato/ quando os desejos nascem”, adverte ele no poema que encerra e dá título ao livro.
Entre demolições, acidentes e reconstruções, ergue-se um livro. E seu autor, Marcelo Frazão, gesta seu chamado ao leitor para ousar mergulhar em seus versos, suas entrelinhas. Uma vez submerso, nada pode ser feito quanto a isso.
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